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Manifestações na UP: e depois dos holofotes? 02/07/2009

Filed under: Destaque — Carlos Daniel Rego @ 15:38

Os meses de Março e Abril foram assinalados por manifestações que acometeram algumas faculdades da Universidade do Porto. O Dia do Estudante, a 24 de Março, e o Dia da Mentira, a 01 de abril, marcaram de uma maneira diferente o calendário deste último semestre.

Manaíra Aires
Passado o auge dos protestos, pelo menos em termos mediáticos, os alvos de discussão continuam claros: o Processo de Bolonha, o pagamento das propinas, os cortes na Acção Social Escolar e a transformação da Universidade em fundação. Acontece que muitos desses debates têm se limitado a grupos específicos da UP.

Marta Calejo, uma das representantes da barricada na FBAUP a 01 de Abril, afirma que “o Movimento 24 de Março tem feito apelo de junção das faculdades, não só da FBAUP com a FLUP, mas de todas as faculdades para aderirem ao movimento”.

Quando questionada quanto à sua exposição na barricada (Calejo foi a porta-voz do grupo), a estudante de mestrado em Belas Artes assegura que tem tido “confrontos com aqueles que foram contra a ocupação, ainda que dentro dos limites”. Isso porque a manifestação no dia 01 de Abril causou atrictos entre os próprios alunos, já que os barricados foram acusados de serem a maioria estudantes da FLUP mas ocuparem o prédio da FBAUP e de não terem avisado com antecedência ao corpo discente da Faculdade de Belas Artes sobre as manifestações.

Houve ainda quem desistiu no meio do caminho, como o estudante Pedro Rodrigues, que abandonou a manifestação na FBAUP acusando os barricados de já não saberem mais o que estavam a reivindicar e perderem o foco da manifestação. “O movimento se recusou a trabalhar em conjunto com professores dispostos a satisfazer pontos das reivindicações”, afirmou o estudante. E ainda completou: “ninguém faz ideia do que eles estão a tentar reivindicar”.

Marta Calejo acentua que até agora “os atuantes no movimento não têm sofrido qualquer tipo de retaliação por parte da Universidade, mas ainda é cedo para dizer que não seremos processados”, aponta.

Segundo um assessor de imprensa da UP, que pediu para não ser identificado, “algumas pessoas têm confundido e achado que a aprovação de medidas nos últimos tempos, como as bolsas extraordinárias, foi em resposta às manifestações, quando não foi. Cerca de duas semanas antes da barricada na FBAUP muitas resoluções já haviam sido aprovadas”, assegura.

Acção radical?

Falou-se ainda que as barricadas foram uma “acção muito radical”. Se para alguns estudantes radicalizar a acção não é “uma maneira sensata de resolver os problemas”, como afirmara a estudante Deborah Santos, por outro lado “foi importante haver uma acção radical para depois discutir com inteligência e tranqüilidade os assuntos que se quer dar visibilidade”, nas palavras de Marta Calejo. “Antes ninguém queria nos ouvir, mas agora todos já prestam atenção no que estamos a dizer”, ainda ressalva.

Para um dos representantes do movimento, o estudante de Sociologia José Miranda, “a ocupação conseguiu confrontar o poder e colocar na agenda uma série de questões que estavam adormecidas. A acção social completamente inoperante deixa de lado quem não tem dinheiro nessa universidade elitista”. Ele ainda assinala que “foi necessário radicalizar a acção para agora, enfim, podermos pensar todos juntos no rumo a que vem sendo dado à nossa universidade”.

No entanto, a questão que continua a ser apontada é: como não deixar a discussão morrer e fomentar a ampliação do debate para além de alguns sítios pontuados? “Talvez seja uma pergunta que mereça uma reflexão e um amadurecimento ainda maior, antes mesmo que se tenha uma resposta clara e assegurada”, comenta o sociólogo Edson Bezerra.

E depois do depois?

Alguns dos estudantes que fizeram parte das barricadas afirmam que fariam tudo de novo e apontam terem aprendido a lidar melhor com os media. “A única coisa que alteraria é a comunicação. Falhamos na relação com os media. A maior parte da imprensa tratou a ocupação da FBAUP de maneira mais imparcial. Já as emissoras de TV foram bastante sensacionalistas, com relatos unilaterais, em que só apareciam pessoas que eram contra a manifestação”, sentencia Marta Calejo.

João Miranda reconhece que “foi mal explicado aos nossos colegas de Belas Artes o que estava a acontecer ali. Mas se dizem-nos que não tivemos legitimidade, isso não é verdade”, ressalva.

“É uma vitória que nos dá a entender que a luta vale a pena, é transformadora. O poder económico aproveita para penetrar nas universidades e torna a universidade acessível apenas a quem tem dinheiro”, finaliza Miranda.

Mas continuamos a nos questionar: como fazer com que a voz ressoante de outrora não se torne um eco fraco e tímido? A maneira como essa voz vem a ganhar espaço não merece discussões mais alargadas e envasadas? Eis mais uma crise dos tempos nesse tempo de crises.

 

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